A brutalidade do espancamento até a morte de Moïse, no Rio de Janeiro, em meio a uma inumerável sucessão de violências contra a classe trabalhadora, é por demais emblemática. Moïse enfeixava, em seu ser, a condição de trabalhador, imigrante e negro. E é exatamente nessa imbricação que o vilipêndio se avoluma. O capitalismo de nosso tempo, pautado cada vez mais pela destrutividade e pela letalidade, tal como o nazismo e o fascismo fizeram no século passado, não tolera nem a classe trabalhadora, nem os imigrantes, nem os negros e negras, nem os indígenas, nem os gêneros livres. A origem da colonização no Brasil, todos sabemos, foi fincada no solo abjeto da escravização. Para tanto, foram brutalmente eliminadas as comunidades originárias e, para regozijo da classe dominante senhorial, branca e europeizada, gestou-se a exploração ilimitada do trabalho escravizado. Chaga que marca nosso país até hoje. É exatamente desse ponto central que o livro de Wagner Miquéias Damasceno parte: o racismo, impregnado que está na pragmática da burguesia predadora que aqui existe e persiste, não foi responsável pela criação do capitalismo. Ao contrário, trata-se do exato inverso: foi o capitalismo gestado no processo de exploração colonial que criou e fez expandir o racismo. E nossa classe dominante tanto disso gostou que foi das últimas a aceitar o fim do trabalho escravo, recriando-o, entretanto, sob a modalidade horripilante do trabalho escravo dito “moderno”. É por isso que devemos repetir, uma vez mais: só teremos emancipação humana e social quando a classe burguesa fizer definitivamente parte do passado. Sem isso, teremos mais racismo, mais exploração, mais xenofobia, mais homofobia, mais exploração, uma vez que o capitalismo de nosso tempo convive muito bem com as aberrações neofascistas e neonazistas. Recuperando de modo vivo, atual e contundente o melhor da crítica marxista ao racismo, esse livro nos faz reviver a fértil